terça-feira, 27 de maio de 2014

Esqueça a nuvem, o futuro da computação está no nevoeiro

Eu acredito no poder de transformação da computação em nuvem como qualquer outra pessoa. Smartphones, que estão constantemente procurando e obtendo informações, não fazem sentido sem a nuvem, e qualquer empresa que não esteja se esforçando para colocar seus dados e software num sistema terceirizado corre, na minha opinião, o risco de ser ultrapassado por um concorrente que esteja fazendo isso.

Mas os defensores da nuvem gostam de declarar que, um dia, 100% da computação será realizada na nuvem. E o negócio de muitas empresas é vender a você essa ideia.

Mas a realidade é que colocar e retirar dados da nuvem é mais difícil que a maioria dos engenheiros, ou pelo menos seus gerentes, quer admitir.

O problema é a velocidade da comunicação de dados — que em computação é expressa por um parâmetro chamado largura de banda. Se uma determinada empresa está simplesmente tentando economizar o custo e o trabalho de armazenar dados por conta própria, a nuvem é ótima porque tudo o que ela precisa é transferir dados através de uma conexão de alta velocidade.

Mas num mundo de conectividade de massa — em que as pessoas precisam conseguir informação em um leque de dispositivos móveis — a comunicação é bastante lenta. Qualquer empresa que envia dados para dispositivos móveis, seja reservas aéreas para passageiros ou dados comerciais para a equipe de vendas, sofre com as limitações das redes sem fio. No geral, segundo o Fórum Econômico Mundial, os Estados Unidos ocupam o 35º lugar entre 148 países em largura de banda por usuário. (O Brasil ocupa a 61ª posição no relatório do órgão.)

Essa é uma razão pelas quais os aplicativos se tornaram o principal meio de se conectar à internet, pelo menos nos smartphones. Parte das informações e do poder de processamento fica a cargo do dispositivo.

O problema de como fazer as coisas quando se depende da nuvem está se tornando mais grave à medida que cada vez mais objetos estão se tornando “inteligentes”, ou capazes de fazer medições do ambiente, conectar-se com a internet e até receber comandos remotamente. Tudo, de aviões a geladeiras, está sendo conectado à redes sem fio e se unindo à “Internet das Coisas”.

As modernas redes de celulares 3G e 4G simplesmente não são velozes o suficiente para transmitir dados dos dispositivos para a nuvem no ritmo em que eles são gerados, e como cada simples objeto do lar e do trabalho está entrando no jogo, a situação só tende a piorar.

Felizmente, existe uma solução óbvia: parar de se concentrar na nuvem e começar a pensar numa forma de armazenar e processar a torrente de dados gerados pela Internet das Coisas (também conhecida como internet industrial) nas próprias coisas ou em dispositivos que fiquem entre nossas coisas e a internet.

O pessoal de marketing da Cisco já inventou um nome para este fenômeno: “fog computing”, ou computação em nevoeiro.

Eu gosto do termo. Sim, ele faz você querer franzir a testa. Mas, como no caso de computação em nuvem (também um termo cunhado pelo marketing quando já era um fenômeno em evolução), ele é uma boa metáfora visual do que está acontecendo.

Enquanto a nuvem está em algum lugar distante e remoto do céu, deliberadamente abstrato, o nevoeiro está perto do chão, bem onde as coisas estão sendo feitas. Ele não consiste de servidores poderosos, mas de computadores mais fracos e mais dispersos, do tipo que está sendo vendido para aparelhos, fábricas, carros, postes de iluminação e qualquer outra parte de nossa cultura material.

A Cisco vende roteadores, que depois da armazenagem é o menos atraente dos setores tecnológicos. Para torná-lo mais excitante, e para vendê-lo para novos mercados antes que os competidores chineses prejudiquem o seu faturamento, a Cisco quer transformar seus roteadores em sistemas que acumulam dados e tomam decisões sobre o que fazer com eles. Na visão da Cisco, seus roteadores inteligentes nunca irão precisar se ligar com a nuvem, ao menos que tenham que, digamos, alertar operadores para uma emergência em um vagão ferroviário equipado com sensores e onde um destes roteadores atuaria como um centro nervoso.

A IBM está trabalhando numa iniciativa semelhante para levar os sistemas de computação “até a extremidade”, um esforço que, segundo o executivo da IBM Paul Brody, vai virar a internet tradicional, baseada na nuvem, “de cabeça para baixo”.  Quando as pessoas falam de “edge computing” — algo como computação na extremidade — o que elas querem indicar literalmente é a extremidade da rede, a fronteira onde a internet termina e o mundo real começa. Os centros de dados estão no “centro” da rede, enquanto os computadores pessoais, telefones e câmeras de vigilância estão na fronteira.

Da mesma forma que, fisicamente, a nuvem consiste de servidores conectados, no projeto de pesquisa da IBM, o nevoeiro é formado por todos os computadores que estão ao nosso redor, ligados entre si. Num certo nível, pedir para nossos dispositivos inteligentes, por exemplo, enviar informações um para o outro, em vez de através da nuvem, pode transformar o nevoeiro num concorrente direto da nuvem em algumas funções.

A conclusão é que temos dados demais. E estamos só no começo. Os aviões são um bom exemplo. Num novo Boeing 747, quase todas as partes do jato são conectadas à internet, gravando e, em alguns casos, enviando um fluxo contínuo de dados sobre suas condições. A General Electric informou que, em apenas um voo, um de seus motores de avião gerou meio terabyte de dados.

Sensores baratos geram uma grande quantidade de dados e são surpreendentemente úteis. Os sensores chamados de analíticos preditivos permitem a companhias como a GE saber qual parte de um avião precisa de manutenção, antes até do avião em questão aterrissar.

Por que você acha que o Google e o Facebook estão falando sobre meios alternativos de acesso à internet, incluindo via balões e drones? Os canais existentes não estão dando conta do recado. Até que as pessoas tenham internet com e sem fio com a velocidade que merecem, conectar as coisas o mais próximo possível do usuário será fundamental para tornar a Internet das Coisas veloz o suficiente para ser utilizável.

O futuro de grande parte da computação das empresas continua sendo a nuvem, mas e a computação realmente transformadora do futuro? Ela vai acontecer bem aqui, nos objetos que nos cercam — no nevoeiro.

Fonte: artigo de Christopher Mims para The Wall Street Journal